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  • Mário Rocha

História da Praça do Marquês no Porto



Praça Marquês de Pombal no início do século XX. Fonte: Porto de Antanho

A praça Marquês de Pombal situa-se próximo do centro geográfico do Porto nos cruzamentos das freguesias do Bonfim, Paranhos e da União de freguesias de Cedofeita, Sto. Ildefonso, Sé, Miragaia e Vitória.


Antes da toponímia presente, este ponto da cidade era conhecido por Largo da Aguardente por supostamente existirem alambiques de aguardente junto deste espaço. A partir de 1882, esta praça adquiriu o nome atual no centenário da morte do dirigente político português Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês de Pombal) responsável por uma reestruturação económico-financeira, administrativa e social do país no século XVIII.


É de sublinhar um apontamento crucial naquilo que é o entendimento da importância desta praça na dinâmica rodoviária da cidade ao longo da história. Pelo Marquês passa a antiga estrada Porto - Guimarães (Via Vimaranes) que vem já desde a época romana e que partia da Porta de São Sebastião na muralha primitiva, ou posteriormente pela Porta de Carros já na muralha Fernandina, subia até à atual rua do Bonjardim e chegava ao sítio/largo da Aguardente. A partir daqui prosseguia pelo arruamento que é hoje a rua de Costa Cabral até à ponte de Alfena e só depois chegava a Guimarães. Ou seja, um claro e importante acesso que conecta o Porto ao norte do país.


Revelou sempre um papel importante no que diz respeito ao controlo, monitorização, bloqueio e estacionamento provisório.


Anúncio para arrendamento da praça de touros da Aguardente. Fonte: Porto de Antanho

Neste local foi construída a bateria da Aguardente incluída na linha de defesa da cidade aquando do Cerco do Porto. Este reduto era crucial por duas razões: primeiro, funcionou como um bloqueio significativo no acesso à cidade via estrada Porto - Guimarães e, segundo, é um lugar localizado a uma considerável altitude – cerca de 150 metros.


Simultaneamente, é de referir que anos antes fixou-se neste lugar uma barreira alfandegária para fiscalização e cobrança do imposto do real da água.


Em 1870, era possível encontrar no Marquês uma praça de touros. Comparativamente com a que esteve na praça Mouzinho de Albuquerque – rotunda da Boavista, este recinto era modesto visto que, além de ser mais pequeno, não estava tão bem equipado ao nível da restauração, por exemplo. De qualquer forma, é de reforçar as continuadas tentativas de implementação de uma cultura tauromáquica ao longo do Norte do país através da construção de várias praças de touros se bem que sempre sem sucesso. Esta, por exemplo, foi queimada.


Já no final do século, neste lugar foi edificado um mercado de hortaliças que revelava

boas condições de higiene. As fundações deste mercado foram reveladas aquando

das escavações para a criação da estação do metro. Durou 15 anos.



Biblioteca Pedro Ivo. Fonte: arquivoatom.up.pt

Com o início do séc XX, o Marquês deixa de ser sítio meramente de passagem para passar a ser um ponto de atração citadino (descanso e lazer) certificando-se como parte da cidade vivida e sentida.

Assim, é de ressaltar alguns exemplos patrimoniais desta afirmação urbanística.

  • Ainda em 1899, por iniciativa pública através de uma subscrição, é aqui colocado um coreto onde nele se faziam concertos de música e festas.

  • Foram instalados dois quiosques art déco dispostos a Sul, construído em 1931, e Norte, 1958.

  • Em 1948 foi erguida a biblioteca popular Pedro Ivo numa menção a este escritor do séc XIX.

  • Ao mesmo tempo, constatava-se a presença de alguns cafés como é o exemplo do café Pereira famoso pelo seu “prego em pão” de carne picada e pelos bilhares no primeiro andar.


Fundação Instituto Marques da Silva. Fonte: fims.up.pt/

Importa agora abordar um dos pontos de interesse desta praça. Situada na esquina do Marquês com a rua Latino Coelho encontra-se a Fundação Instituto Marques da Silva.

Trata-se de um edifício discreto que, fundamentalmente, serve para divulgar e promover a obra do arquiteto Marques da Silva num contexto de investigação científica.


José Marques da Silva foi arquiteto e professor e teve um papel crucial no que diz respeito à inclusão da cidade numa ideia progressiva e moderna através da projeção de um conjunto de edifícios que qualquer portuense reconhece. Viveu quase toda a sua vida no Marquês e após terminar o curso em Paris (em que teve como mestre Victor Laloux, autor do Quai d'Orsay, uma antiga estação ferroviária - atualmente o famoso museu D'Orsay) imbuído pela Arte Nova, regressa ao Porto e decide arquitetar uma variedade de edifícios que se caraterizam essencialmente pelo pragmatismo e elegância naquilo que é a compreensão da fisionomia do espaço portuense sem descurar uma base clássica e o gosto claro pela decoração.


Um exemplo paradigmático é a estação de São Bento. Por um lado permitiu a chegada do comboio ao centro da cidade vindo de Campanhã afirmando a respetiva área envolvente como um novo núcleo citadino. Por outro lado, esta obra é um edifício-museu que pela sua monumentalidade e decoração é uma das grandes obras do arquiteto. Este é um grande exemplo no que concerne à utilização clara do ferro, elemento de especial gosto para este arquiteto.



Desenho da estação de São Bento. Fonte: portoarc.blogspot.com/

Podemos encontrar a obra de Marques da Silva por quase toda a cidade desde edifícios públicos (Teatro Nacional São João, o monumento aos Heróis das Guerras Peninsulares, os liceus Alexandre Herculano e Rodrigues de Freitas) a imóveis privados (Companhia de Seguros “A Nacional”, prédio Joaquim Emílio Pinto Leite, ambos na Avenida dos Aliados, os grandes armazéns Nascimento ou a própria casa-museu Marques da Silva).



Edifício Joaquim Emilio Pinto Leite na Av. dos Aliados. Fonte: restosdecoleccao.blogspot.com/


Teatro Nacional São João. Fonte: Blog Kostadealhabaite



Instituto Profissional do Terço. Fonte: monumentosdesaparecidos.blogspot.com

Verifica-se, igualmente, a existência de edifícios ligados à educação, disciplina e assistência social.

  • Colégio Nossa Senhora da Paz orientado pelas irmãs Doroteias

  • Perpétuo Socorro criado pelos padres Redentoristas.

  • Instituto Profissional do Terço

Este último, originalmente como Asylo Profissional do Terço, foi construído em 1891 pelo Visconde Pereira Machado. Desde a sua criação até à atualidade, dedicou-se à reintegração de jovens marginais e delinquentes na sociedade tendo como foco a aprendizagem de novos ofícios. O acompanhamento e orientação são contínuos de maneira que uma vocação seja despoletada, visando o fortalecimento de uma autonomia e confiança essenciais para viver com qualidade de vida.


A esta instituição já esteve agregado um cinema. O Cinema do Terço foi construído em 1965 e foi durante várias décadas o principal suporte monetário do Instituto que com as verbas recolhidas passou de uma sala ao ar livre para uma sala coberta.


Em 2003, Mário Dorminsky disse, numa entrevista ao JUP, que “assistir a um filme e namoriscar, no intervalo, no jardim do Terço, era tão natural como ir beber um café ao ‘Pereira’ e passear no jardim do Marquês”.


Este também era um local onde aconteciam eventos musicais como é o caso da vinda de John Zorn ao Porto em 1995. Encerrou portas em 2003.

Bilhete do concerto de John Zorn. Fonte: misteriosoimpossivel.blogspot.com/



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